Capacitação em Abaetetuba prepara profissionais para atuar nas comunidades afetadas pelos impactos das mudanças climáticas
Cerca de 500 profissionais da área de saúde, entre Agentes Comunitários de Saúde e enfermeiros da Atenção Primária, participam no dia 27 de junho de uma capacitação voltada para o enfrentamento de doenças agravadas pelas mudanças climáticas na Amazônia. A iniciativa é da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Abaetetuba, no nordeste do Pará.
O treinamento prepara os profissionais para identificar e atuar na prevenção de agravos comuns nas comunidades da região, como arboviroses, infecções respiratórias, doenças transmitidas por água contaminada, além de problemas dermatológicos e infecções fúngicas — condições que tendem a se intensificar com os efeitos do clima.
De acordo com Wanderson Gonçalves, coordenador de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Inovação da faculdade, o objetivo é ir além da formação técnica. “As mudanças climáticas já impactam diretamente a saúde pública. Preparar os agentes é fundamental para fortalecer a prevenção, a vigilância e o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)”, explica.
FOCO NA PREVENÇÃO E NO ATENDIMENTO COMUNITÁRIO
A capacitação será realizada em dois turnos, manhã e tarde, com quatro horas de atividades em cada período. A programação inclui palestras, mesas de debate e troca de experiências entre os participantes. Um dos destaques será a entrega de um guia prático de bolso, que servirá como ferramenta de apoio no trabalho de campo dos agentes.
O curso acontece em um momento crítico para a saúde em Abaetetuba. O município vive um aumento expressivo nos casos da Doença de Chagas. Segundo dados do Serviço Especializado em Doença de Chagas (SEDCA), de janeiro a abril de 2024 foram confirmados 276 casos da forma crônica da doença, além de outros 272 em análise pelo Laboratório Central (LACEN), em Belém.
Abaetetuba também integra o Projeto Integra Chagas Amazônia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sendo município-piloto nas ações de rastreio da doença. O médico infectologista Fagner Carvalho, que coordena o SEDCA, alerta: “A Doença de Chagas pode ficar assintomática por anos, mas entre 10% e 30% dos pacientes desenvolvem complicações graves, como insuficiência cardíaca, arritmias, megacólon ou megaesôfago.”
ATENDIMENTO NAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS
O treinamento faz parte do projeto Afya Amazônica, que busca enfrentar os desafios sanitários e socioambientais da região. Uma das ações em destaque é a Expedição Rios de Saúde, que chega à terceira edição levando atendimento médico para a comunidade quilombola de Piratuba, em Abaetetuba.
Nos dias 30 de junho e 1º de julho, médicos voluntários e estudantes de medicina realizam atendimentos em várias especialidades, como cardiologia, clínica médica, pediatria e infectologia. Serão oferecidos exames laboratoriais, eletrocardiogramas e testes rápidos, com atenção especial para o diagnóstico da Doença de Chagas — uma das principais ameaças à saúde local.
COMPROMISSO COM A AMAZÔNIA
A Afya mantém uma atuação consistente na região, com 16 unidades de ensino na Região Norte, incluindo faculdades em Abaetetuba, Bragança, Marabá e Redenção (PA), além de escolas em estados como Amazonas, Acre, Rondônia e Tocantins. Somente em 2024, a instituição realizou mais de 846 mil atendimentos gratuitos em todo o país, sendo 26% na região Norte. No Pará, foram mais de 27,5 mil atendimentos, demonstrando o impacto social das ações.
O projeto Afya Amazônica reafirma que cuidar da Amazônia vai muito além da preservação ambiental — é também garantir saúde, dignidade e acesso aos serviços básicos para quem vive nas comunidades mais isoladas da floresta.