Casco permanece visível no rio Pará enquanto comunidades ribeirinhas seguem cobrando justiça e reparações por danos ambientais e sociais.
Dez anos se passaram desde que o navio Haidar afundou no Porto de Vila do Conde, em Barcarena, carregado com quase 5 mil bois vivos. O que era para ser apenas mais uma operação de exportação se transformou em um dos maiores desastres ambientais já registrados na região.
O tempo avançou, mas o cenário ainda carrega feridas abertas. A embarcação permanece parcialmente submersa, visível à margem do rio — um lembrete silencioso de um desastre que afetou o meio ambiente, a economia local e a vida de milhares de famílias ribeirinhas.
O impacto imediato foi devastador: quase todos os animais morreram, houve vazamento de óleo e a pesca — principal fonte de renda para comunidades inteiras — foi severamente comprometida. São cerca de 5 mil pescadores de ilhas vizinhas que, até hoje, sentem os efeitos do episódio.
Em 2018, uma tentativa de reparação ocorreu por meio de um acordo judicial que destinou pouco mais de R$ 10 milhões em indenizações. Para quem convive diariamente com os prejuízos, esse valor foi simbólico. Em 2020, novas vozes se levantaram: uma ação movida na Justiça inglesa passou a cobrar uma reparação mais robusta, estimada em cerca de R$ 810 milhões, em nome de 18 mil pessoas afetadas — entre pescadores, moradores e até crianças.
A nova ação também amplia o escopo de responsabilização: questiona o papel da empresa saudita Salic, que possui vínculos com a carga transportada e participação na operação. A Minerva Foods, dona dos animais, afirma que sua responsabilidade foi cumprida e que o incidente cabe à transportadora e à Companhia Docas do Pará.
Enquanto os processos avançam lentamente nos tribunais, a paisagem e o cotidiano das comunidades permanecem marcados pela ausência de soluções.
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